Como "Amor de Mãe" está salvando as novelas da Globo


Adriana Esteves, Regina Casé e Taís Araújo em Amor de Mãe

Em 2017 quando me formei em Rádio e TV, muito se falava no fim das novelas por conta da dominação das novas mídias que surgiam diariamente e arrastava o público da televisão para a frente de outras telinhas como smartphones, tablets e notebooks.

Os profetas anunciavam o apocalipse durante os quatro anos de curso: CORRAM PARA AS COLINAS, É O FIM DA TELEVISÃO.

Para quem estava fazendo uma graduação em Comunicação com habilitação em Rádio e TV, a sensação era de navegar no próprio Titanic. Mas eu prosseguia, afinal precisava catar meu diploma e voltar para São paulo.

Tempos depois, já em São Paulo, duvidando ainda da profecia e cada vez mais interessado em conhecer diferentes formatos de narrativas e mecânicas de roteiros, me matriculei em um curso de "Roteiro para Novelas" para assim entender qual é a mágica que uma dramaturgia tão longa precisa para prender e fidelizar o telespectador.

O "professor" era Aguinaldo Silva, autor de novelas como "A Senhora do Destino", "Império", adaptou "Tieta" entre outras.

Depois de passarmos pelas principais etapas da construção de um roteiro novelístico, entendi que a novela poderia sim ser ressuscitada, aproximando de alguma maneira a internet e assim unir a instantaneidade das redes sociais com a força de propagação que a televisão tem.

Ou seja, era uma sentença! Se a TV não se adaptasse ao novo modelo de programação como as plataformas de streaming, interatividade e autonomia de programação, boa parte do público jovem não iria mais assistir TV aberta.

Num planeta onde as séries estão dominando o mercado audiovisual, com seu formato compacto de episódios mais curtos, muito mais atrativo para o público que além de ter a liberdade de definir o momento ideal para assistir alguma coisa, quer tudo mais rápido, mais veloz e sem interrupção comercial.

Como uma produção tão gigante como uma novela sobreviveria nesse cenário?

O fato é que de 2016 pra cá, a televisão entendeu o recado e vem buscando fórmulas para interagir com o novo telespectador e está se adaptando muito bem. Visto o sucesso da última novela "A Dona do Pedaço" e da atual "Amor de Mãe".

As novelas são parte da cultura brasileira, embora nem sempre sejam merecedoras do sucesso que fazem e muito menos entregam conteúdos relevantes. A verdade é que elas fazem parte da nossa história e estão na nossa casa todo dia, desde que o mundo é mundo pra muita gente da minha geração.

Um exemplo de sucesso é a maneira como duas novelas em especial vem costurando em seu conteúdo as redes sociais.

Em "A Dona do Pedaço" as redes sociais serviam como ferramenta de trabalho para uma das personagens, Vivi Guedes, interpretada pela Paola Oliveira, que tinha até uma conta REAL no Instagram. Tudo o que acontecia na trama da personagem refletia de alguma maneira em seu perfil.

Instagram da personagem Vivi Guedes na novela "A Dona do Pedaço" interpretada por Paola Oliveira.

O que eu quero dizer é que essa relação das novelas com as redes sociais vem funcionando e ressuscitando os folhetins, quiçá a própria Rede Globo. 

Com "Amor de Mãe", a proposta não foi apenas conectar a novela às redes sociais, ela foi além. Conectou o discurso das pessoas, mostrando o reflexo da política vergonhosa e sucateada que vivenciamos hoje, diretamente na história. Com temas relevantes, não somente polêmicos para gerar audiência.

A Rede Globo vem renovando seus autores, abrindo espaço para novos roteiristas, oxigenando todo o meio e colocando as novelas novamente no mainstream jovem. 

Aqui vale um adendo: a excelente estratégia de criar um Big Brother Brasil só com influencers, assim, arrastando o público que os confinados na casa têm na internet para o sofá da sala, como se fazia antigamente. Mais um ponto pra emissora.

Elenco do Big Brother Brasil 2020

Na novela "Amor de Mãe" percebem-se cenários que não são comuns em novelas das 9, como casas populares, figurinos simples, sem romantização da pobreza, mostrando de maneira amplificada o dia a dia de quem mora na periferia. Jogando na cara da sociedade que nesses lugares além de gente honesta, há também muito amor.

Elenco da novela Amor de Mãe

Percebe-se toda uma curadoria na trilha sonora que consegue passear pelo popular com Caetano, Maria Bethânia e sofisticada ao mesmo tempo. Agora entrando na fase internacional, a trilha está ficando tão boa quanto na fase brasileira.

Quem disse que o povo não gosta de música boa? 

Também temos ainda uma mudança na estrutura: três protagonistas que articulam a contação da história exaltando mulheres fortes. Dando exemplo e inspirando outras mulheres e crianças. 

Poderia ficar horas aqui falando de outras qualidades da novela.

Do importantíssimo posicionamento político. Dos diálogos engajados. Da desconstrução dos personagens masculinos, apresentando homens fragilizados e sensíveis. Escancara o machismo pelo viés feminino entre outras qualidades.

Regina Casé em Amor de Mãe

Fazia muito tempo que não acompanhava uma novela, porque elas não me tocavam mais. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

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😀

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